A
Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito reafirma sua posição contra a
candidatura de Bolsonaro, reconhecendo suas propostas e falas incoerentes com a
mensagem de Jesus Cristo, e incoerentes com a construção de uma democracia
participativa, com garantias de direitos e promoção da justiça.
As propostas de Bolsonaro representam a
barbárie, onde a violência será estabelecida como ferramenta de controle.
Nós, os crentes que compomos a Frente de
Evangélicos, não reconhecemos nossa fé nessas bases.
A nossa fé nos faz crer no amor e na
transformação.
A Frente de Evangélicos pelo Estado
de Direito é um movimento, nascido no meio cristão
evangélico, com os objetivos de promover a justiça social, a defesa de todos os
direitos garantidos pela constituição brasileira (direitos civis, políticos,
sociais, econômicos, culturais, etc.) e pela legislação internacional de
direitos humanos, enfrentar quaisquer violações de direitos humanos, lutando
pela garantia do Estado Democrático de Direito.
A Frente surge em um momento de grande crise,
aflição, angústia e incitação ao ódio, vividos pela nação brasileira, com
ataques frontais ao pleno exercício da democracia. A ausência de serenidade e
cautela nestes momentos críticos tem despertado muita preocupação e teme-se que
o acirramento provocado pela ruptura democrática venha custar mais vidas
humanas.
Conquanto tenha-se entre os membros desse
movimento, como em todo o universo evangélico, as mais diversas opiniões
políticas, ideológicas e opções partidárias, há em comum a defesa da
tolerância, da paz e da justiça, conforme a orientação das Escrituras Sagradas.
Deseja-se, nesta Frente, se posicionar a respeito dessas questões e
acontecimentos.
Todos os membros desta Frente declaram que:
• como cristãos, rejeitamos e denunciamos com
veemência a corrupção, a iniquidade, a impunidade e o ataque ao Estado
Democrático de Direito. Esses desvios fazem com que o pão não esteja na mesa do
pobre, e deixem os enfermos e os órfãos desamparados.
• entendemos que a corrupção e a impunidade
têm sido problemas endêmicos na sociedade brasileira. E que a indignação de
todos nós contra isso é justa e profética. Contudo, rejeitamos igualmente toda
indignação pecaminosa que suplante o ordenamento jurídico, que aja com
parcialidade e dissemine o ódio e o desejo de vingança entre os brasileiros.
• somos favoráveis a que todos, em quaisquer
posições que ocupem ou de quaisquer camadas da sociedade, denunciados na forma
da lei por possíveis crimes, sejam investigados e julgados. Porém, só se faz
justiça civil pela aplicação rigorosa e exclusiva da lei. Não concordamos que
os ritos necessários para o juízo legal sejam adulterados apenas para atender
ao clamor público.
• rejeitamos a postura midiática tendenciosa
com divulgações editadas dos processos investigativos. Essa prática irrefletida
apenas tem promovido dias de aflição e angústia para os brasileiros, além de
propagar o ódio e a intolerância com quem pensa de forma diferente sobre a
condução dos processos. Por isso, nós pedimos à nação, e em especial aos nossos
irmãos em Cristo, muita cautela e serenidade, e que o desejo de justiça não nos
torne injustos.
• exigimos respeito ao voto. Toda eleição é
uma convocação e um embate entre eleitores, e o voto é o suporte da
legitimidade. Se a escolha dos eleitores corre o risco de ser invalidada, tem
de haver um processo segundo o ordenamento jurídico, logo, isso tem de ocorrer
de forma isenta e sob o império da Lei. O mandato outorgado pelo povo, por meio
do voto, não pode ser levianamente questionado.
• rejeitamos todo ódio. O ódio, constatado
muitas vezes nos discursos de figuras públicas, incita a violência e isso,
segundo a nossa fé, é diabólico e não pode ser admitido entre os que constituem
a Igreja do Senhor Jesus em solo brasileiro. Cabe a todo cristão a tarefa de
ter paz com todos, seja em serviço ao próximo, seja em tolerância com quem
pensa diferente, sendo capaz de amar e interceder por seu oponente. Intercessão
que, rogamos, seja feita por nossa nação.
• defendemos que as investigações devam
continuar. Que as provas sejam coletadas e os responsáveis sejam arguidos pelos
tribunais, conforme o estabelecido nas leis brasileiras. Que não haja
privilégios para qualquer pessoa investigada, independente de posição ou partido
político. Que essas investigações não sejam parciais e seletivas, usando assim
uma balança injusta.
• sabemos que os gritos de “crucifica-o” são
motivados, muitas vezes, por gente mal intencionada e isso pode nos trair e nos
levar a julgamentos precipitados. Entendemos que condenar alguém, antes que
todo o processo investigativo seja concluso, antes que se dê amplo direito de
defesa, e antes que um tribunal dê sua sentença final, constitui um perigoso
precedente para que quaisquer poderes, seja o Executivo, o Legislativo ou o
Judiciário, excedam os seus limites constitucionais.
• defendemos a democracia como valor
inexorável da Nação e não aceitaremos que nada possa interferir no Estado de
Direito. Queremos que a institucionalização seja observada e que prevaleça a
serenidade necessária para que o estado democrático seja preservado.
• reiteramos que “a voz” das ruas deve ser
ouvida, mas o limite é a Constituição Brasileira. Cremos que todos devem ser
investigados, mas dentro das garantias constitucionais. Que o voto e a escolha
da maioria devem ser honrados, como reza a lei. Cabem às instituições,
designadas democraticamente para tal, a garantia do Estado de Direito, a fim de
que quaisquer cidadãos tenham seus direitos respeitados.
Para tanto permaneceremos em vigília e em
orações e exercendo nosso papel de sal e luz nessa sociedade.