O jovem Médico, João Costa,
que tem sua história marcada por dificuldades na carreira universitária,
relatadas no Programa Fantástico, da Rede Globo, inicia suas atividades na UBS
Joselita Olinda dos Santos, no Distrito Monte Coelhos.
Ao lado do jovem Médico, João Costa, a Secretária Municipal de Saúde, Emanuelly Hora, que esteve presente na unidade de atendimento para dar boas-vindas ao médico.
Ao lado do jovem Médico, João Costa, a Secretária Municipal de Saúde, Emanuelly Hora, que esteve presente na unidade de atendimento para dar boas-vindas ao médico.
A seguir, um breve relato
sobre o Médico João Costa!
Eu, João Santos Costa,
negro, quilombola, filho de lavradores, nascido e criado na roça, filho do meio
e integrante de uma família humilde composta por 11 irmãos e rodeada pela
pobreza, chego ao fim de uma enorme batalha!
Atualmente com 24 anos
de idade, sou oriundo da cidade de Simão Dias-Sergipe, nascido e crescido no
povoado Sítio Alto, uma comunidade autodeclarada quilombola, formada por
descendentes de escravos e que desde sua criação foi assolada pela pobreza e
por precárias condições de vida e moradia. Desde criança já sabia que para poder
melhorar a minha condição social e a da minha família teria que sair do
paradigma que era comum onde eu morava (trabalhar na roça para prover o
sustento) e me aventurar no mundo da educação e do conhecimento.
Confesso que não foi
fácil nascer em uma família grande, pobre, que nem conseguia manter minimamente
os filhos com itens básicos como alimentação e vestimenta e ainda conseguir
estudar, principalmente para meus pais, analfabetos que mal conseguem assinar o
próprio nome. Chegar na faculdade então? Uma utopia. Morava em uma comunidade
em que poucos haviam chegado ao ensino médio, quiçá chegar à Universidade
Federal.
Lembro-me que haviam
momentos em que eu não sabia o que comeria no decorrer do dia, nem o que
vestiria para ir estudar, nem se teria sapatos para calçar, mas eu nem pensava
em faltar às aulas e muito menos em usar tais obstáculos como empecilhos para
não buscar conhecimento e mudar de vida!
Mesmo estudando ainda
assim trabalhava na lavoura, principalmente no período das férias escolares.
Gostava muito de estudar e de frequentar a escola, porém o que prevalecia no
momento era a vontade de sair da labuta desgastante, e mesmo assim louvável,
que era a vida na roça. Outro ponto importante era a necessidade de poder
proporcionar uma vida melhor e menos sofrida àquelas pessoas que tanto fizeram
por mim e por meus irmãos: os meus pais.
Inicialmente sofri um
pouco de resistência em virtude da situação familiar e das adversidades
financeiras da época, mas me destacava cada vez mais na escola, pois sabia que
a única opção para uma ascensão social e financeira era por meio dos estudos.
Não desmereço a vida na lavoura pois foi graças a ela e aos esforços dos meus
pais que cheguei aqui. Eles foram peças fundamentais para minha vitória! Muitas
vezes os presenciei abdicando de suas refeições para proporcionarem o dejejum
aos inúmeros filhos, para comprarem materiais escolares e proverem vestimentas,
tudo muito simples, mas de coração. Não foi fácil!
Ao contrário de grande
parte dos colegas de curso, estudei todo o meu ensino fundamental e médio em
escola pública, com suas deficiências estruturais e de corpo docente. Porém, o
importante é que nessa caminhada tive a sorte de encontrar pessoas
compromissadas e que honraram a profissão. Agradeço de coração a cada um dos
professores que conheci, que além de compartilharem seus conhecimentos
científicos e materiais didáticos, compartilharam lições de cidadania,
comportamento e empatia, e não menos importante, me prepararam para vida! Sem o
apoio de cada um de vocês eu não poderia ter alçado meu voo e não teria chegado
onde cheguei!
Estudei, estudei,
estudei e os resultados chegaram! Aprovado com louvor no ensino fundamental e
no médio! Até hoje tenho um amor enorme pelos professores e funcionários das
escolas por onde passei.
Consegui meu primeiro
emprego no último ano do ensino médio, uma época maravilhosa em minha vida.
Vivia a dicotomia entre estudar para o ensino médio e trabalhar meio turno na
Promotoria de Justiça de Simão Dias, estágio remunerado conseguido por méritos
e fruto do meu desempenho acadêmico na escola estadual Dr. Milton Dortas, lugar
onde eu estudava na ocasião. Percebi neste momento que se quisesse realizar o
que tanto almejava teria que me esforçar cada vez mais e mais.
Apesar das dificuldades enfrentadas, como a falta de professores, matérias não dadas, calendário acadêmico atrasado e o estágio na promotoria, me aventurei no vestibular na tentativa de realizar meu sonho, que era entrar na universidade. Muitas vezes me questionava se seria possível, se eu era capaz. Recebi muitos comentários desencorajadores, de pessoas próximas inclusive, pelo fato de ser uma pessoa pobre, vindo da roça, negro e proveniente de escola pública. Conseguir cursar medicina? Muitos consideraram improvável! Mas Deus e o destino foram maravilhosos comigo, proveram pessoas que me apoiaram e me incentivaram, que acreditaram no meu potencial e que me instigaram a provar para mim e para os incrédulos que eu conseguiria, e eu consegui!
Apesar das dificuldades enfrentadas, como a falta de professores, matérias não dadas, calendário acadêmico atrasado e o estágio na promotoria, me aventurei no vestibular na tentativa de realizar meu sonho, que era entrar na universidade. Muitas vezes me questionava se seria possível, se eu era capaz. Recebi muitos comentários desencorajadores, de pessoas próximas inclusive, pelo fato de ser uma pessoa pobre, vindo da roça, negro e proveniente de escola pública. Conseguir cursar medicina? Muitos consideraram improvável! Mas Deus e o destino foram maravilhosos comigo, proveram pessoas que me apoiaram e me incentivaram, que acreditaram no meu potencial e que me instigaram a provar para mim e para os incrédulos que eu conseguiria, e eu consegui!
O ápice foi a aprovação
aos 17 anos de idade, em terceiro lugar, no curso de medicina da Universidade
Federal de Sergipe, campus de Lagarto; curso que estou terminando com louvor e
colhendo os frutos da minha dedicação e empenho. A aprovação no vestibular foi
“O marco” em minha vida! Muita coisa estava em jogo, não só o meu futuro, mas
também o da minha família.
Hoje em dia as coisas
estão um pouco melhores, mas a minha família ainda passa por dificuldades, já
que o sustento ainda é provido pelo trabalho na roça e por benefícios sociais
de distribuição de renda. Sabia que cursar medicina teria seus custos, mas não
me deixei abalar, corri atrás dos meus direitos sociais e me inscrevi no
programa de residência universitária disponibilizado pela UFS e na bolsa
permanência disponibilizada pelo MEC. Tenho o orgulho de dizer que não
estressei meus pais com despesas nesses anos longe de casa, pois sabia que eles
não teriam condições de arcar e que eu estaria tirando recursos que poderiam
ser utilizados na criação dos meus irmãos.
Foram seis longos anos
cheios de experiências agradáveis e desagradáveis, além de quatro greves, pois
nada na vida é fácil. Conheci pessoas fantásticas, professores maravilhosos e
assimilei lições importantes. Apanhei muito, não fisicamente, mas mentalmente.
Horas de sono perdidas, matérias infinitas, tutoriais complexos. Mas tentei
sempre extrair o que de bom existia nas adversidades, pois sabia que o mais
difícil era conseguir passar no vestibular.
No pouco que vivi
aprendi que quando as dificuldades baterem na sua porta deixe-as entrar! Nada
melhor que os desafios para instigar a evolução humana. Acredito que se eu não
tivesse tantas dificuldades não estaria me graduando em medicina, curso ainda
elitizado e estereotipado em nossa sociedade. Mas a vida apenas está começando,
o aprendizado sempre continua e nada é como antes.
Espero que este relato
sirva de incentivo para aqueles que desejem realizar seus sonhos, por mais que
pareçam impossíveis. Muito obrigado a todos que fizeram parte deste caminho até
aqui, sem vocês e sem Deus eu não conseguiria.
Fonte: SECOM - Prefeitura de
Tobias Barreto