Pesquisadores descobriram, em Sergipe, uma nova espécie
de cigarrinha capaz de hospedar o agente causador do Amarelecimento Letal do
Coqueiro (ALC),
grave doença que pode chegar ao Brasil e que já se encontra em alerta sanitário
desde 2013.
Batizada de Oecleus sergipensis (em alusão ao
nome do estado onde foi descoberta), é a primeira cigarrinha do gênero Oecleus
Stål com ocorrência registrada em território brasileiro.
Sua descoberta é resultado de um esforço internacional
de pesquisa para identificar potenciais vetores do ALC em regiões produtoras de
coco. Os estudos envolvem a Embrapa,
universidades e instituições de pesquisa do Brasil e do exterior, como o Centro
de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), da França; e o Centro de Pesquisa
Científica de Yucatã (CICY), no México.
São responsáveis pela descoberta as bolsistas Flaviana
Gonçalves da Silva, de doutorado pela Coordenadora de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (Capes); e Eliana Maria dos
Passos, de pós-doutorado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), sob orientação do
pesquisador Leandro Diniz, da Embrapa Tabuleiros Costeiros (SE).
Também integra o grupo o pesquisador Michel Dollet, do Cirad, que atua em
cooperação no Brasil desde 2014.
Esses e outros resultados de pesquisa são frutos dos
projetos ”Aprimoramento
do conhecimento científico sobre o amarelecimento letal do coqueiro e outras
doenças em palmeiras”, liderado pela Embrapa, e da rede de
cooperação científica internacional mantida na plataforma Marketplace, que congrega
pesquisadores da Embrapa e outras instituições.
Os espécimes foram coletados entre 2015 e 2016 nos
bancos genéticos de coqueiro que a Embrapa mantém no município de Neópolis, no
Baixo São Francisco Sergipano, e em Itaporanga d’Ajuda, no litoral sul do
estado, além do parque Augusto Franco, localizado ao lado da Unidade da Embrapa,
na capital sergipana.
No Brasil, foi realizada a identificação molecular da
nova espécie, por meio da caracterização genética. A confirmação de
identificação morfológica da nova espécie foi feita pelo pesquisador do Departamento de Entomologia da
Universidade de Delaware (Udel), Estados Unidos,
Charles Bartlett, considerado o maior especialista no gênero Oecleus Stål no
mundo.
O cientista americano assina, com as duas bolsistas, o
pesquisador da Embrapa e o cientista francês, o artigo
publicado na revista internacional Zootaxa, especializada em
identificação de espécies animais, no qual a nova cigarrinha é descrita.
Potencial vetor do ALC
Até o momento, o único agente transmissor
cientificamente confirmado do amarelecimento letal é a cigarrinha da
espécie Haplaxius crudus.
Nas expedições de coletas de cigarrinhas feitas em 2015
e 2016 pelos pesquisadores em Sergipe, Bahia e Alagoas, foram capturados
milhares de indivíduos, mas nenhum do gênero Haplaxius. Espécimes desse
gênero, contudo, foram encontrados em número elevado (aproximadamente 97%)
durante uma visita de duas semanas a áreas produtoras do Pará, em 2016.
“Na época, fizemos a notificação às autoridades
fitossanitárias do estado, bem como ao Ministério da Agricultura (Mapa). Esse se configurou como o primeiro
registro oficial da presença do vetor conhecido do ALC no Brasil”, conta o
pesquisador Marcelo Fernandes, chefe-geral interino da Embrapa Tabuleiros
Costeiros e membro do projeto em rede.
Um fato que chama a atenção dos cientistas é a presença
do ALC em plantações de coqueiro em países da África, apesar de não haver
qualquer registro da ocorrência de cigarrinhas dos gêneros Haplaxius ou OecleusStål.
Isso aumenta as suspeitas de que outros gêneros e espécies tenham potencial
para transmitir a doença.
No caso da Oecleus Stål, testes de
transmissibilidade em ambiente controlado com apoio da CICY, no México, onde a
doença já ocorre, deverão confirmar ou não a possibilidade de essas cigarrinhas
atuarem como vetores.
Os pesquisadores verificaram que a cigarrinha
descoberta em Sergipe possui hábitos alimentares semelhantes ao vetor
conhecido, que suga a seiva elaborada da planta, onde, caso ela esteja
infectada, encontra-se o fitoplasma (bactéria parasitária desprovida de parede
celular).
Levantamentos e estudos conduzidos no México pelo
pesquisador Carlos Oropeza, do CICY, já apontaram a presença do fitoplasma no
trato digestivo de cigarrinhas do gênero Oecleus Stål capturadas em
plantios de coqueiro naquele país.
Essas descobertas feitas pela rede de pesquisa elevam
ainda mais a preocupação e o nível de alerta para uma eventual chegada da
doença ao Brasil, onde as plantações de coqueiros e outras palmáceas têm
importância econômica e paisagística.
Sistema de alerta
Uma das iniciativas do projeto liderado pela Embrapa
foi a edição de um boletim de alerta para a doença, que teve distribuição
massificada entre produtores, agentes de defesa agropecuária e assistentes
técnicos das regiões produtoras. A publicação está disponível online desde
2015.
Agentes de defesa agropecuária dos estados produtores e
com potencial para aparecimento da doença, como Sergipe, Roraima e Pará, foram
treinados pelos pesquisadores para reconhecer os sintomas e realizar a coleta
de forma adequada das partes das plantas para reconhecimento em laboratório.
Outra ação do projeto foi promover a preparação de três
laboratórios no País para receberem as amostras e realizarem os testes
fitopatológicos para a identificação segura e precisa do fitoplasma que causa o
ALC.
Foi iniciada em 2018 a instalação de plantações
sentinelas em áreas com potencial para o aparecimento da doença no Brasil.
Essas parcelas serão monitoradas continuamente para a rápida detecção caso a
doença surja.
Os sintomas aparecem em sequência, começando pela queda
repentina de todos os frutos da planta, tanto os grandes quanto os pequenos; em
seguida se observa o amarelecimento das folhas mais velhas, que estão na porção
mais baixa da planta; depois vem o escurecimento, manchas marrons e necrose das
inflorescências; no próximo estágio, há a progressão do amarelecimento das
folhas de baixo para cima – após amarelecer, a folha se torna marrom e ocorre a
sua queda; no estágio final ocorre o apodrecimento e morte da planta, restando
apenas o estipe sem folhas.
O que fazer em caso de suspeita de ALC
Assim que o produtor perceber um ou mais coqueiros, ou
outra espécie de palmeira, com os sintomas descritos, deve fotografar as
plantas e entrar em contato com a Embrapa por meio do Serviço de Atendimento ao
Cidadão (SAC).
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) instituiu, no fim de 2013, um plano
de contingência para o Amarelecimento Letal do coqueiro. Registrado na Instrução
Normativa número 47, o plano determinou a criação do Grupo Nacional
de Emergência Fitossanitária (em que estão integrados pesquisadores da Embrapa)
para identificar, propor e articular a implementação de ações preventivas de
vigilância fitossanitária relacionadas à doença.
“O Mapa, em articulação com a Embrapa, está promovendo
levantamentos de detecção e delimitação para avaliar a presença do vetor da
doença nos estados produtores de coco”, informa a coordenadora-geral de
Proteção de Plantas do Ministério da Agricultura, Graciane Gonçalves Magalhães
Castro. Ela conta que as ações fazem parte do Plano de Contingência para o
Amarelecimento Letal do Coqueiro.
Com a continuação do projeto, os cientistas envolvidos
continuarão fornecendo ao Ministério todas as informações técnicas disponíveis
para a elaboração de um protocolo detalhado de identificação e controle da
doença.
Viviane Talamini, pesquisadora da Embrapa especialista
em doenças do coqueiro, alerta que só é possível determinar em definitivo se a
planta está infectada pelo Amarelecimento Letal por meio de exames em
laboratórios especializados. Por isso, ela ressalta que é importante que o
produtor, ao notar os sintomas descritos, entre em contato com a Embrapa.
O produtor deve, também, procurar a Superintendência
Federal de Agricultura (SFA) do seu estado, que adotará os procedimentos de
coleta de amostras na plantação e as encaminhará para exames nos laboratórios,
sob a responsabilidade do Departamento de Sanidade Vegetal (DSV) do Ministério
da Agricultura. Os contatos da Ouvidoria do Mapa em Brasília são 0800 704 1995
e ouvidoria@agricultura.gov.br.
Os especialistas afirmam que a única maneira de
contingenciar a doença é quando existem poucas plantas infectadas. Ao permitir
que um foco da doença se dissemine, poderá ser necessário que todas as plantas
da área sejam destruídas. Caso contrário, a doença vai se espalhar para
plantações vizinhas e poderá atingir todo o País. Os pesquisadores ressaltam
que a doença não causa qualquer problema à saúde humana e animal.
Resistência
No âmbito da plataforma Marketplace, com o objetivo de
identificar potencial de tolerância e resistência de variedades de coqueiro
anão-verde (usado para produção de água de coco), a Embrapa enviou materiais do
tipo anão-verde do Brasil, do banco genético mantido em Sergipe, para plantio
em campo no México, com apoio do CICY.
Em novembro de 2018, os pesquisadores Elio Guzzo e
Elias Ribeiro, da Embrapa Tabuleiros Costeiros, visitaram áreas cultivadas no país
norte-americano para observar o comportamento do anão-verde do Brasil diante da
doença.
Eles observaram em campo que nos locais onde o ALC
ocorre e já acomete diversos coqueiros, a variedade brasileira não apresentava
os sintomas. Esse fato é um indicativo promissor de que a variedade, largamente
cultivada no Brasil, tem grande potencial de tolerância e resistência ao
fitoplasma.
Saulo Coelho (MTb 1065/SE)
Embrapa Tabuleiros Costeiros
Contatos para a imprensa
tabuleiros-costeiros.imprensa@embrapa.br
Telefone: (79) 4009-1381
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Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/
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