Por volta das 3 da madrugada do último sábado, 11, a equipe de local de crime do Instituto de Criminalística (IC) foi acionada para atuar em um possível caso de latrocínio ocorrido no Conjunto Dom Pedro, no bairro José Conrado de Araújo, que culminou com a morte da jovem Ana Paula Jesus dos Santos, de 26 anos.
 Ao chegar no local, os peritos se depararam com uma cena chocante: o corpo de Ana Paula estava no quarto onde dormia com o marido, Vitor Aragão, com parte do crânio dilacerado atingido por uma marreta.
 A esta altura, Vitor estava na parte inferior da residência, onde vive uma irmã dele. A moradia fica nos fundos de uma casa principal, que também é habitada por familiares dele.
 Segundo a narrativa de Vitor, uma dupla de assaltantes teria pulado o muro da casa e seguido para os fundos, onde o casal morava. Ainda segundo os relatos dele, os indivíduos estariam em busca de R$ 2 mil guardado pelo casal dentro do imóvel.
 O marido também disse aos peritos como se deu a dinâmica dos fatos, que culminaram na morte de Ana Paula. Em seu primeiro depoimento pós-crime, ele informou que a esposa foi atingida por uma marretada e ele por um tijolo, ficando tonto, mas, ainda assim, conseguindo fugir do local.
 “Ao chegar no local, os peritos buscam por vestígios de ordem biológica, como manchas de sangue, pelos, sêmen, vestígios de ordem química, que são medicamentos, venenos, bebidas. Procuram também por vestígios de ordem física, como armas de fogo, armas brancas, projeteis, e vestígios de ordem morfológica, como pegadas e marcas de calçado. A partir daí, o perito elabora uma dinâmica do que teria acontecido no local”, explica o diretor do Instituto de Criminalística, Luciano Homem.
Porém, as informações pareciam não seguir a lógica “montada” na cabeça de Vitor. O perito e o delegado presente no local não ficaram convencidos do desenrolar dos fatos. E, nesse sentido, o laudo pericial teve papel imprescindível para a elucidação do que teria acontecido naquela madrugada.
 De acordo com o laudo, o marido alega latrocínio, mas a Perícia de Local de Crime não verificou nenhum vestígio que elencasse esse tipo de delito, a exemplo da não presença de marcas no muro, indicando uma escalada, muito menos sinais de arrombamento. Além disso, a região onde o casal residia não possui histórico de assaltos corriqueiros.
 Outro ponto claro no laudo é de que a vítima não teria sido atingida por um único golpe de marreta, o que é possível afirmar devido à presença do perfil das manchas de sangue encontradas no local. O perito também conclui que Ana Paula recebeu as marretadas do lado oposto do relatado por Vitor.
 “Começamos a investigação com base no primeiro material que recebemos do pessoal de local de crime, ouvimos as testemunhas e, no início da tarde, saiu para gente o laudo de local de crime. Com base nesse laudo, percebemos que não há ainda, nenhuma prova de uma terceira pessoa no local onde houve a morte de Ana Paula, o que nos indica, a priori, que só havia no quarto Ana Paula e Vitor. Algumas testemunhas falam, inclusive da família, que Ana Paula já pensava em separar do Vitor”, aponta a delegada responsável pela investigação, Luciana Pereira.
 E mais controvérsias corroboram em desfavor de Vitor Aragão. O médico-legista de plantão não encontrou nenhuma lesão compatível com a versão do marido de que teria sido atingido por um tijolo. Também foi encontrada em cima da cama do casal, onde a vítima estava morta, uma marca de pegada compatível com o chinelo utilizado por Vitor na noite do crime. Outro ponto controverso, uma vez que o marido afirmou não ter retornado ao local para socorrer a esposa.
 Diante de todos os pontos elencados no laudo, a delegada pediu a prisão preventiva do acusado pelo período de 30 dias, enquanto conclui a investigação, que caminha para o indiciamento do acusado pelo crime de feminicídio.

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