Marcelo Macedo, 33 anos, saiu
de casa para encontrar com um paquera, na noite de domingo (20), mas o passeio
terminou com ele sendo baleado quatro vezes e socorrido às pressas para o
Hospital Geral de Camaçari (HGC). O motivo para tanta violência, segundo testemunhas,
foi porque Marcelo beijou o namorado em público, o que deixou três homens que
estavam no mesmo local descontrolados.
O crime aconteceu por volta
das 23h, em um bar no bairro Inocop, em Camaçari, na Região Metropolitana de
Salvador. Segundo os amigos da vítima, Marcelo vai ao local com frequência e,
por isso, era para ser mais uma noite comum.
Ele e o rapaz estão se
conhecendo, ainda não são namorados. Eles marcaram de se encontrar no bar e
estavam trocando carícias quando os homens que estavam em outra mesa ficaram
incomodados”, contou uma amiga da vítima que pediu para não ser identificada.
As balas acertaram o braço e o
abdômen do jovem. Marcelo foi socorrido às pressas para o HGC, onde permanece
internado. Ele passou por cirurgia e, segundo os amigos, o quadro de saúde é
considerado estável. Nas redes sociais, eles pediram a ajuda das autoridades
para que o crime não fique impune.
“A homofobia, o machismo, o
racismo, a intolerância mata todos os dias. Não podemos fechar os olhos, é
preciso resistir. A nossa vida é um ato de resistência. Marcelo é meu amigo.
Felizmente o estado de saúde dele agora é estável. Mas é inadmissível que
crimes como esse aconteçam debaixo dos nossos olhos e passem despercebidos.
Vamos encontrar o culpado para que as medidas legais sejam tomadas”, escreveu
uma mulher.
Investigação
Marcelo continua internado, mas foi ouvido pelos policiais da 18ª Delegacia (Camaçari), responsável pela investigação do caso. O bar onde houve o crime tem câmeras de segurança, assim como os estabelecimentos que ficam próximos, e as imagens serão analisadas. Os três criminosos fugiram e ainda não foram identificados.
Marcelo continua internado, mas foi ouvido pelos policiais da 18ª Delegacia (Camaçari), responsável pela investigação do caso. O bar onde houve o crime tem câmeras de segurança, assim como os estabelecimentos que ficam próximos, e as imagens serão analisadas. Os três criminosos fugiram e ainda não foram identificados.
Em nota, a Polícia Militar
informou que PMs do 12º Batalhão (BPM/ Camaçari) foram informados pela central
que um homem tinha sido atingido por disparos de arma de fogo. Quando
chegaram ao local, a vítima já estava recebendo os primeiros socorros dos
profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
A Secretaria de Justiça,
Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia (SJDHDS) disse, também em
nota, que repudia o ataque sofrido por Marcelo e que acompanha o caso, por meio
da Superintendência de Direitos Humanos e da coordenação LGBT. A pasta disse
também que está em contato com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia
(SSP), para que o episódio seja esclarecido e os culpados respondam pelo crime.
“A SJDHDS reafirma o
compromisso do Governo do Estado com a promoção da igualdade, do respeito e da
cultura de tolerância. Fatos como este devem ser investigados e punidos
exemplarmente”, diz a nota.
Repercussão
Durante o programa Papo Correria desta terça-feira, o governador Rui Costa condenou o ataque, disse que esse não é o Brasil que os brasileiros merecem e afirmou que o caso será investigado com rigor.
Durante o programa Papo Correria desta terça-feira, o governador Rui Costa condenou o ataque, disse que esse não é o Brasil que os brasileiros merecem e afirmou que o caso será investigado com rigor.
“Esse episódio compõe esse
tecido que se construiu no Brasil nos últimos anos, de pregar ódio e
intolerância nas pessoas. E querer hegemonizar a sociedade na base da força, da
violência, do medo e da truculência. Isso merece o nosso total repúdio, e todas
as autoridades competentes, policiais, vão agir para entregar, com todos os
detalhes, os responsáveis à Justiça. Da nossa parte, temos que continuar
repudiando e dizendo que não aceitamos. Esse não é o Brasil que nós merecemos”,
afirmou.
A Comissão de Diversidade
Sexual e Enfrentamento à Homofobia, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-BA),
também está acompanhando o caso.
Desde junho de 2019, o Supremo
Tribunal Federal (STF) tornou a homofobia crime. Os ministros determinaram
que a conduta passe a ser punida pela Lei de Racismo (7716/89), que hoje prevê
crimes de discriminação ou preconceito.
De acordo com a decisão da
corte, "praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito"
em razão da orientação sexual da pessoa poderá ser considerado crime com pena
de um a três anos, além de multa. Mas, no caso de Marcelo, soma-se também a
tentativa de homicídio.
O Grupo Gay da Bahia (GGB)
está acompanhando o caso. O presidente da entidade, Marcelo Cerqueira, também
acredita em homofobia e cobrou punição para o crime. A instituição contabilizou
23 homicídios de LGBTs no estado este ano, mas disse que esse número é maior
porque nem todos os casos chegam até o GGB.
"Espaço público é espaço
de todo mundo, e um beijo não é crime. Isso não deve incomodar porque não é
proibido, nem para gays nem para héteros. Um beijo não é motivo para indignação
a ponto de alguém fazer isso [atirar 4 vezes] com outra pessoa. O que
permitiu essa violência foi a má índole dos agressores e a vulnerabilidade
social em que a comunidade vive, com essa sensação de impunidade para crimes
desse tipo", afirmou.
Apuração
Na semana passada, completou seis meses do assassinato do servidor público de Lauro de Freitas Alessandro Bráulio Matos Fraga, 33 anos, mais conhecido como Alex Fraga. Ele era ativista LGBT, ex-presidente e fundador do Grupo Gay do município.
Na semana passada, completou seis meses do assassinato do servidor público de Lauro de Freitas Alessandro Bráulio Matos Fraga, 33 anos, mais conhecido como Alex Fraga. Ele era ativista LGBT, ex-presidente e fundador do Grupo Gay do município.
Alex desapareceu em abril
deste ano, depois de deixar um grupo de amigas em um bar, perto de onde ele
morava, para ir em casa. O corpo dele foi encontrado no dia seguinte, em um
matagal na localidade de Pedreira, entre Simões Filho e Areia Branca. O carro
dele, um Volkswagen Fox, estava a cerca de 100 metros do corpo. Parentes e
amigos disseram que a vítima apresentava marcas de tiro, estrangulamento e de
pauladas na cabeça.
O caso foi lembrado no começo
de outubro pelo Grupo Gay da Bahia, que cobrou mais empenho na investigação.
Quem tiver informações sobre
os bandidos, nos dois casos, tanto de Marcelo como de Alex, pode ajudar a
polícia pelo Disque Denúncia. Quem estiver na capital pode entrar em contato
pelo (71) 3235-0000. Quem estiver no interior do estado pode ajudar a
investigação pelo 181. O sigilo é garantido.