O Ministério Público Federal (MPF) viu indícios de estelionato por parte
do pastor Valdemiro Santiago de Oliveira, líder da Igreja Mundial do Poder de
Deus (IMPD), que apareceu em vídeo divulgado na internet anunciando sementes de
feijão com supostos poderes de curar a Covid-19.
A Procuradoria Regional da República da 5ª Região, no Recife (PE) pediu
nesta sexta-feira (8) que o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP)
apure o caso e denuncie o pastor.
Segundo o procurador federal Wellington Cabral Saraiva, “está claro” no
vídeo que o pastor “usa de influência religiosa e da mística da religião para
obter vantagem pessoal (ou em benefício da igreja), induzindo vítimas em erro,
pois não há evidência conhecida de cura da Covid-19 por meio de alguma
divindade nem por ingestão ou plantação de feijões mágicos”.
“O noticiado não fala explicitamente em pagamento, pois emprega a
palavra-código “propósito”. As vítimas não fariam pagamentos, mas “propósitos”.
A despeito do disfarce linguístico, o ardil está claro: os fiéis devem pagar
valores predeterminados para obter feijões mágicos que os poderão curar da
Covid-19, mesmo em casos graves”, afirma Wellington Cabral Saraiva.
No vídeo, o pastor Valdemiro Santiago fala da planta e pede o
"propósito de R$ 1 mil" por ela.
"Na última reunião de bispos e pastores, apresentando com exame,
com laudo médico, gente curada de coronavírus. Em estado terminal, podemos
dizer assim. Gravíssimo, num estado muito avançado. E Deus operou e fez
maravilha. E tá ali o exame, para quem quiser. Seria bom uma reportagem na
Globo, na Bandeirantes, na Record, no SBT, na Redetv, para mostrar ao povo o
poder de Deus. Aí você vê como é importante a semente, a semeadura. Então o
povo obedeceu a José e semeou na terra. E a terra deu o retorno. Toda família
se fartou e conseguiu venceu a crise, a epidemia", diz o pastor.
'Deboche da boa-fé'
Na notícia crime enviada aos promotores de São Paulo, o procurador do
MPF também afirma que o pastor Valdemiro Santiago “praticamente debocha da
boa-fé de seus seguidores, informando que as sementes germinarão e na planta
estará escrito ‘Sê tu uma bênção’”– que é o slogan místico-publicitário da
organização religiosa comandada por ele.
“Não se pode, a título de liberdade religiosa, permitir que indivíduos
inescrupulosos ludibriem vítimas vulneráveis e firam a fé pública. Não se trata
de coibir as pessoas em geral de professar a fé que desejarem e de cultuar as
divindades de sua preferência, na forma de sua escolha. Trata-se de impedir que
determinados indivíduos se valham desse conjunto de crenças para obter vantagem
econômica ilegítima, valendo-se da crendice alheia, mediante sofisticados
esquemas publicitários, psicológicos e tecnológicos”, argumenta o procurador.
Wellington Cabral Saraiva afirma que, ao pedir a investigação do pastor
Valdemiro Santiago em São Paulo, o MPF não tem intenção de interferir na fé
religiosa das pessoas que frequentam a igreja Igreja Mundial do Poder de Deus.
“Não se pretende, obviamente, que o estado interfira na liberdade
religiosa (assegurada pelo art. 5o , VI, da Constituição da República) e
determine como líderes religiosos se relacionam com os seus fiéis nem como
estes devem exercer sua autonomia de crença.(...) A liberdade religiosa, porém,
não é direito absoluto (como não o é nenhum dos direitos fundamentais da
Constituição). Pode e deve ser alvo de escrutínio estatal quando fira outros
preceitos da ordem jurídica”, explica.