O coronel reformado do Exército assinala que
as Forças Armadas se preparam para uma intervenção no cenário político. Além
disso, diz que já está em curso uma guerra civil, cujo inimigo é a esquerda.
O coronel reformado do Exército Brasileiro,
Gelio Fragapani, publicou um artigo com o título “Teremos uma guerra civil?” em
um site sobre
assuntos de defesa nacional onde chama a atenção para uma guerra civil que,
segundo ele, já estaria em curso. O coronel é autor da doutrina brasileira de
Guerra na Selva e, apesar de não estar mais na ativa, é um oficial que conserva
influência no Estado-maior das Forças Armadas.
A argumentação do oficial aponta para uma
preparação por parte das Forças Armadas para intervir no cenário político nacional.
O grande inimigo a ser enfrentado é a esquerda. O governo Jair Bolsonaro
(ex-PSL, sem partido) é o governo dos militares. Estaria em curso uma
conspiração por parte das instituições públicas, Supremo Tribunal Federal e
Congresso Nacional, para sabotar o governo e permitir o retorno da esquerda ao
poder.
Como ameaças, Gelio cita a soltura e
restituição dos direitos políticos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT). Faz referência a uma frase do ex-dirigente petista José Dirceu sobre a
tomada do poder. Em sua miragem, o coronel afirma que a esquerda está
escondendo armamento para deflagrar uma luta armada guerrilheira. O governo
Bolsonaro estaria sendo paralisado intencionalmente, com a finalidade de
impedir que se antecipe à tomada de poder pelos comunistas.
No artigo há delírios de um militar de
extrema-direita fascistóide. Contudo, o fato real é que as Forças Armadas
treinam e se preparam para intervir na situação política no País. O regime
político se fragiliza com o aprofundamento da crise sanitária, que já matou
mais de 300 mil brasileiros, e a crise econômica capitalista. O coronavírus é
um fator que aprofundou ainda mais o problema. Por mais que não tenha poder
sobre a tropa, em virtude de ser reformado, o coronel tem espaço num site importante
sobre assuntos militares. Ele expressa as concepções ideológicas predominantes
entre o oficialato superior e os oficiais generais da ativa e da reserva.
Nas últimas semanas, o Exército Brasileiro
retomou o treinamento para as operações de Garantia da Lei da Ordem (GLO). No
Rio de Janeiro, a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), escola de
formação de oficiais do Exército, realizou treinamentos nas ruas de Resende,
Quatis e Porto Real. No total, são mais de 13 mil militares ocupando postos
civis no governo Bolsonaro, em todos os escalões.
Os militares manifestam grande incômodo com a
caracterização de Bolsonaro como “genocida”, pois trata-se de um governo do
qual as Forças Armadas fazem parte. Em diversas ocasiões, o presidente fascista
ameaçou com golpe militar, disse que não se deveria criticar as Forças Armadas
e que a vontade delas é que garantiria a democracia no Brasil. Inclusive, foi
proposta a comemoração do golpe militar de 1964.
Nos momentos críticos da crise da pandemia,
Bolsonaro sinalizou que pode pôr as Forças Armadas nas ruas. Com a restituição
dos direitos políticos de Lula, apto a participar das eleições presidenciais de
2022, os militares e os fascistas organizam atos públicos em frente aos
quartéis do Exército e Tiros de Guerra. A reivindicação é a intervenção.
A utilização da Lei de Segurança Nacional para
perseguir militantes de esquerda e jornalistas que chamaram Bolsonaro de
“genocida” é um exemplo da escalada da repressão política. Os militares apoiam
as medidas de censura contra a esquerda. A Lei de Segurança Nacional foi a
espinha dorsal da doutrina jurídico-política da ditadura militar.
A possibilidade de Lula ser eleito e a volta
do Partido dos Trabalhadores (PT) ao governo federal causam verdadeiro pânico
nos militares. Eles têm medo de que o PT, sob pressão dos movimentos sociais,
consiga rever a Lei da Anistia e coloque os torturadores e golpistas na
cadeia.Além do mais, jamais aceitaram o trabalho da Comissão Nacional da
Verdade, cujos relatórios revelam a política de extermínio, tortura
institucional, vigilância política, ocultação de cadáveres e desaparecimento
forçado de militantes de esquerda no período militar. Além disso, são
representantes dos interesses de poderosos grupos capitalistas imperialistas e
“nacionais” que patrocinaram o golpe e temem ver seus interesses atingidos.
Lula é a principal ameaça para o governo Jair
Bolsonaro e as Forças Armadas. Estes sabem que Lula é a liderança política mais
popular do país, que conta com base de massas, apoio dos sindicatos, capaz de
vencer as eleições presidenciais contra as manobras dos golpistas e das
instituições do Estado.
O papel da esquerda é chamar os trabalhadores
à luta, aprofundar a polarização política que se expressa no País. É preciso
enfrentar a ameaça de golpe militar nas ruas e realizar mobilizações contra a
comemoração do golpe de 1964.
Somente as mobilizações de massas podem
colocar um fim nos planos golpistas da extrema-direita bolsonarista e das
Forças Armadas. Do ponto de vista do poder político, a candidatura de Lula é a
alternativa dos trabalhadores.