O dia 13 de junho tem um significado a mais para o município de Mossoró, no Rio Grande do Norte. A data marca o dia da invasão do bando de Lampião à cidade do Oeste potiguar e a resistência do povo mossoroense ao tão temido rei do cangaço, que a partir dali iniciava seu declínio. E foi nesse sábado, 13 de junho, dia de Santo Antônio, que o município recebeu das mãos de um sergipano de Itabaiana parte desse registro histórico: a carta escrita pelo prefeito coronel Rodolpho Fernandes, em 1927, dizendo "não" ao cangaceiro.
 A solenidade de entrega da carta aconteceu no Palácio da Resistência, atual gabinete da prefeita Rosalba Rosado e um dos mais importantes equipamentos históricos da cidade. O prédio era a casa do prefeito Rodolfo Fernandes e serviu como ‘quartel general’ para a articulação de políticos e autoridades policiais na organização da defesa da cidade contra o bando de Lampião.
"Nossos 'Heróis da Resistência' agradecem a Robério Santos, historiador e pesquisador sergipano, a doação ao acervo histórico de Mossoró. Seu guardião agora é o Museu Histórico Lauro da Escóssia", disse a prefeita Rosalba Ciarlini Rosado.
Como forma de agradecimento, Robério Santos irá receber da Câmara Municipal de Mossoró, através do vereador Amex Moacir, o título de cidadão mossoroense.
A carta
 O documento histórico estava desaparecido há 93 anos. Nele Rodolpho Fernandes responde ao coronel Antônio Gurgel, sequestrado pelos cangaceiros, que a cidade de Mossoró não dispunha dos 400 contos de réis exigido pelo bando de lampião para que não invadisse a cidade. 
 "Não é possível satisfazer-lhe a remessa dos 400000 (quatrocentos contos) que pede, pois não tenho e mesmo no commercio é impossivel de arranjar tal quantia. Ignora-se onde está refugiado o gerente do Banco, Snr. Jayme Guedes, Estamos dispostos a recebe-los na altura em que elles desejarem. Nossa situação oferecce absoluta confiança e inteira segurança. Rodolpho Fernandes, prefeito", diz a carta.
 Todos os anos, a cidade relembra essa passagem histórica através de um espetáculo a céu aberto, a "Chuva de Bala" - como é chamado -narra a resistência do povo mossoroense ao bando do mais temido dos cangaceiros Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião.  Para muitos historiadores, a batalha em Mossoró durou cerca de duas horas e marcou o início do declínio daquele que ficou conhecido como rei do cangaço. O bando saiu fugido da região, deixando para trás homens feridos, entre eles, Jararaca (José Leite de Santana), um dos principais cangaceiros do bando. Depois de ser baleado, Jararaca foi capturado e morreu dias depois, sendo enterrado na cidade.
 Este ano, por conta da pandemia do novo coronavírus, o espetáculo Chuva de Bala não pode ser apresentado, mesmo assim, os mossoroenses tiveram motivo para comemorar com a descoberta da relíquia, tão importante para a história da cidade.
Como a carta foi encontrada
 O documento foi encontrado pelo professor, jornalista e escritor sergipano de Itabaiana Robério Santos, uma das principais referências sobre cangaço no país. Autor de seis livros publicados sobre o tema, ele também mantém um canal no Youtube - "O Cangaço na Literatura", que tem mais de 140 mil inscritos e centenas de publicações.
 Robério diz que o documento chegou a ele no mês de maio, durante sua pesquisa para a publicação da primeira de uma série de cinco obras que pretende escrever sobre o tema. Ele conta que comprou pela internet uma pasta com recortes de jornais antigos e  teve a surpresa de encontrar a carta misturada com os outros papéis.
F5 News

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