A Agricultura Tropical Sustentável, construída sobre uma
Plataforma de Ciência, Tecnologia e Inovação, é provavelmente a maior e mais
relevante contribuição já feita pelo Brasil ao processo civilizatório da
humanidade. Barateou e democratizou o alimento, transformou um dos biomas mais
naturalmente degradados do Planeta – os Cerrados – num celeiro global.
Funcionou como escudo protetor de uma Amazônia que estava sendo ocupada antes
do conhecimento científico chegar. Revolucionou a saúde, os padrões de
longevidade, criou bem-estar, civilização e dezenas de cidades naquilo que há
pouco mais de 40 anos era o Brasil profundo, abandonado e deserto.
Não obstante, em quase cinco décadas de conquistas substantivas
para o Brasil e para o mundo, o Agro brasileiro continua a não fazer parte do
projeto brasileiro de sociedade e a ser percebido como uma ameaça ambiental e à
saúde dos consumidores pelos formadores da opinião pública, aqui e no plano
internacional.
É preciso ter a coragem de mudar, desenvolver uma narrativa
compatível com a excelência da Plataforma de Ciência, Tecnologia e Inovação que
sustenta os pilares da Agricultura Tropical Sustentável.
O tempo urge. Temos à disposição uma legião de jovens urbanos,
inovadores, ansiosos por uma causa para investir a sua energia criativa na
construção de um mundo melhor.
E, existe causa mais nobre do que superar o déficit alimentar,
tanto o hoje existente quanto nas próximas décadas; contribuir decisivamente
para a redução da desigualdade, para a inclusão social e tecnológica dos povos
tropicais; para a contenção das migrações forçadas?
E se essa narrativa vier alinhada com as mais evidentes tendências
do capitalismo contemporâneo?
É
nesse sentido que a candidatura do Professor Alysson Paolinelli, Presidente do
Fórum do Futuro, ao Prêmio Nobel da Paz, pode se transformar num divisor de
águas. Sugerida e provocada pela visão política e estratégica do também
Conselheiro e ex-ministro da agricultura, Roberto Rodrigues, a candidatura tem
na sua base uma contundente narrativa: tudo o que foi feito no Brasil decorreu
de um
trabalho em Rede, orientado por Ciência, Tecnologia e Inovação; todas as transformações que poderemos desenvolver doravante podem igualmente ter origem numa Plataforma do Conhecimento voltada para o desenvolvimento sustentável, tendo como ponto de partida a identificação dos limites de uso de cada um dos nossos biomas.
Inúmeros
sinais de que a sustentabilidade associada à transparência e à ética se
consolidam como vetores de uma das mais consistentes tendências econômicas das
próximas décadas.
O Conselheiro do Fórum do Futuro e ex-Ministro do Planejamento,
Paulo Haddad, acredita que a narrativa já se tornou uma poderosa arma econômica
de grande impacto, capaz de dirigir investimentos globais. Ele traz para esse
debate o livro (2019) do Prêmio Nobel de Economia, Robert Shiller, que aborda
um dos aspectos mais relevantes para a compreensão desse conceito: “Narrative
Economics – How Stories Go Viral and Drive Major Economic Events”.
Esses sinais cada vez mais fortes nos levam a crer que a
Comunicação, o formato e as mensagens com os quais a Ciência e os negócios
compõem seu diálogo com as sociedades, são elementos estruturantes dessa
questão. A Comunicação é um dos pilares do problema e da solução, mas está
longe está longe de ser o único.
Em jogo estão a reputação dos produtos brasileiros, a qualidade da
inserção no mercado internacional, a oportunidade de novos investimentos, a
perda de cérebros, ou em última análise o futuro do País. Já estamos pagando um
alto preço por nos afastarmos da coligação das Nações com a bússola virada para
o capitalismo avançado.
Custo este que
só vai aumentar...
Está na hora de promovermos a integração das áreas para
definitivamente enfrentar o desafio de um novo pacto global do alimento,
encontrando caminhos para promover a inclusão tecnológica dos povos tropicais,
permitindo o desenvolvimento sustentável, a geração de renda e empregos e
viabilizando a permanência dos povos tropicais em suas regiões de origem.
*Fernando Barros é
Jornalista e Gerente Executivo do Instituto Fórum do Futuro