Esta reflexão, sugerida pela equipe técnica da
CPI da Covid-19 no Senado Federal, é endereçada à Comissão Técnica da Seleção
Brasileira e aos nossos craques, ídolos e atletas. Nosso modesto propósito é
informar, alicerçados em argumentos estritamente técnicos, sem qualquer viés
político. As razões para a realização da Copa América na iminência de uma
terceira onda da pandemia no Brasil não corresponde à opção sanitária mais
segura para o povo brasileiro.
1) O número de brasileiros vacinados
representava, na totalização do dia 04/06/2021, apenas 10,77% do total da
população. Isso o coloca o país na posição de número 64 no ranking mundial de
vacinação adotando-se o critério percentual da população imunizada/100 mil
habitantes. O Brasil não oferece segurança sanitária de acordo com dados
objetivos para a realização de um torneio internacional dessa magnitude no
país. Além de transmitir a falsa sensação de segurança e normalidade, oposta à
realidade que os brasileiros vivem, teria o efeito reprovável de estimular
aglomerações e transmitir um péssimo exemplo. Pelo atraso da vacinação estamos
muito distantes da cobertura vacinal mínima para pensar em retomadas da vida
normal;
2) O Brasil, onde pretensamente se realizaria
a Copa América, registra hoje a trágica marca de mais de 470 mil mortos pela
pandemia. Estamos vivendo um dos momentos mais críticos da doença, sob o risco
concreto de uma terceira onda mais severa e, como constatado, com a população
ainda não imunizada em percentuais seguros. Morrem em média perto 2 mil
brasileiros todos os dias vitimados pela doença e o colapso do atendimento
hospitalar se avizinha. Isso significa que a cada partida de futebol da Copa
América, de 90 minutos, mais de 120 brasileiros estariam morrendo ao mesmo
tempo. Futebol é uma das maiores expressões da alegria. Há alegria em uma
situação como essa?
3) Temos ciência da divisão existente no
Brasil. Alguns setores tentam forçar a realização da Copa América, ou não, como
um ato político. Como se a única neutralidade fosse obedecer sem questionar.
Por isso, trazemos a lume esses argumentos nitidamente técnicos. Para muito
além da política, há uma discussão entre ciência em oposição ao negacionismo.
4) Pensem na preparação técnica de todos, nos
treinamentos, deslocamentos, alojamentos, na meticulosa rotina de exercícios,
na equipe de profissionais médicos, fisioterapeutas, nutricionistas e tantos
outros. Pensem nos esquemas táticos, nas técnicas que cada um desenvolve para
alcançar o seu auge de desempenho como atleta. Há como negar que todos esses
avanços são fundamentais? Essas rotinas e protocolos são “políticos”, as que
todos vocês praticam todos os dias para manter a altíssima performance que é
exigida de um atleta? Claro que não. Assim como não é político seguir
protocolos internacionais num país que enfrenta um grave momento pandemia.
Não somos contra a Copa
América no Brasil ou em qualquer outro lugar. Mas acreditamos que o torneio
pode esperar até que o país esteja preparado para recebê-lo, assim como já
aconteceu pela primeira vez na história com uma competição muito mais
importante, as Olimpíadas do Japão. Não realizar e não participar da Copa
América no Brasil não é um ato político, é um gesto de respeito à vida de
milhões de famílias enlutadas pela morte e por cicatrizes incuráveis. É adotar
a mesma disciplina técnica e científica que todos da Comissão Técnica e todos
os Jogadores obedecem, desde sempre, todos os dias.