São Paulo, 21 (AE) – Entidades
e associações que representam caminhoneiros avaliam a possibilidade de realizar
uma paralisação nacional a partir de domingo (25), Dia do Motorista, que
poderia crescer na segunda-feira (26). Há um descontentamento de parte da
categoria com promessas não cumpridas pelo governo Jair Bolsonaro e com as
altas recentes do preço do óleo diesel.
Entre as insatisfações também
são citadas o fim da isenção do PIS/Cofins sobre o diesel, os preços elevados
dos insumos para o transporte de cargas e a falta de fiscalização do piso
mínimo do frete. Algumas entidades já decidiram apoiar a interrupção das
atividades, mas reuniões ainda serão realizadas ao longo desta semana para
definir a posição da categoria, segundo representantes ouvidos pela reportagem.
Uma das entidades que decidiu
apoiar a paralisação é o Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas
(CNTRC). Plínio Dias, presidente da entidade, disse que a mobilização começa no
dia 25 e que a adesão pode crescer na segunda-feira e nos dias subsequentes. A
entidade afirma já ter apresentado 387 ofícios ao governo desde o começo do ano
com as reivindicações dos caminhoneiros, como o fim da política de Preço de
Paridade de Importação (PPI) da Petrobras para combustíveis, maior fiscalização
nas estradas para cumprimento do piso mínimo de frete e a aposentadoria
especial para os motoristas. Segundo o representante, a pauta é a mesma da
paralisação do início de 2021. “Até o presente momento, o governo e as pastas
cabíveis não chamaram para conversar”, disse ele.
O descrédito do governo vem
aumentando junto aos caminhoneiros em virtude de algumas promessas não
cumpridas. Em maio, preocupado com movimentos grevistas e as constantes ameaças
de paralisações, o governo anunciou um pacote de medidas para a categoria, o
“Gigantes do Asfalto”. Entre as medidas consta a criação do Documento
Eletrônico de Transportes (Dt-e), uma das principais apostas do governo para o
segmento autônomo. O projeto foi aprovado na última quinta-feira, 15, pela
Câmara dos Deputados por meio da Medida Provisória nº 1051/21 e vai tramitar no
Senado. Trata-se de um recurso que vai unificar os documentos exigidos para o
transporte de cargas e que poderá ser usado pelo celular do motorista. Também
foi visto pela categoria como tentativa de acalmar os ânimos.
A Associação Brasileira dos
Condutores de Veículos Automotores (Abrava) vai decidir sobre a adesão no
movimento em reunião com seus associados nesta quinta-feira (22). “Estamos
conversando e orientando a categoria para seguirmos para termos os cumprimento
das leis que conquistamos”, disse o presidente da Abrava, Wallace Landim,
conhecido como Chorão. A entidade vem cobrando o Executivo quanto à efetivação
de uma série de medidas anunciadas para a categoria em manifestações
frequentes.
O representante da Associação
Nacional de Transporte do Brasil (ANTB), José Roberto Stringasci, disse que a
entidade apoia a categoria na sua decisão, mas ponderou que os caminhoneiros
ainda estão decidindo se vão parar ou não. Conforme Stringasci, várias reuniões
de lideranças sindicais, de associações e cooperativas estão sendo realizadas
no Brasil todo nesta semana. “Vamos ver a decisão da maioria da categoria. O
que a maioria decidir estaremos junto e apoiando.”
Conforme Stringasci, a questão
dos combustíveis é chave. “Não tem mais condições para o caminhoneiro, e nem
para o povo brasileiro, de tanto reajuste. A categoria quer uma reforma na
política de preço”, disse o líder. Dias, do CNTRC, que participou de uma
reunião em junho com o presidente da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna,
afirmou que até o momento os caminhoneiros não foram chamados à mesa para
escutar a resposta da empresa aos seus pedidos.
Segundo os líderes, há
possibilidade de maior adesão agora do que na paralisação de fevereiro, em
virtude dos reajustes no diesel de lá para cá. Conforme o representante da
ANTB, alguns motoristas e entidades que a princípio eram contra, por achar que
era um movimento contra o governo, agora acreditam ser “uma questão de
necessidade” a paralisação para reivindicar seus “direitos”. “Entenderam as
pautas, principalmente a do combustível”, disse. “Agora o caminhoneiro está com
a corda no pescoço e viu que o combustível subiu e que, se a gente não se
mexer, vai subir de novo”, afirmou Dias.