A cidade de Tobias Barreto que já teve os nomes de Paraíso,
Campos do Rio Real de Cima, Vila de Campos do Rio Real, Campos do Rio Real e Campos
o penúltimo, depois, por último Tobias Barreto em 1943, quando recebeu o nome
de seu filho mais proeminente que é Tobias Barreto de Menezes.
Alguns já falaram sobre a cidade,
sobre o homem e sobre sua geografia, mas eu quero falar especificamente sobre
uma vertente comercial que fez com que a feira que já era grande e seus
bordados que também já eram famosos e vendidos em vários Estados da Federação
fiassem mais famosos ainda e é o que movimenta até hoje a economia da cidade e
a FEIRA DA CORUJA, nome que o povo criou
por acontecer na madrugada e o motivo de ser na madrugada do domingo pra
segunda é porque a feira de Tobias sempre foi na segunda feira. Tobias Barreto
sempre teve sua economia voltada para o comércio diversificado. Nos primórdios
era o couro que dele faziam sandálias (as famosas priquitinhas), malas etc. que
eram vendidos na cidade e levados para ser vendidos em outras cidades e
Estados, principalmente no Sul da Bahia, talvez por isso o Sul da Bahia tenha
sido povoado por sergipanos em sua maioria) costume que os tobienses
conservaram até os dias atuais com a venda de confecções. Com o fim dos
curtumes, o negócio de couro desapareceu e surgiram os famosos bordados criados
na cidade e que eram feitos por pessoas da cidade, tanto nas máquinas de
costuras, como bordados a mão, como crivo, Rechilieu, os chamados varicô, que
era marca de uma linha para bordado, mas as pessoas chamavam assim e com ela
bordavam os “desabeis” e “chambres”. Eram bordados artesanais. Muitas pessoas
tinham quase como funcionárias as bordadeiras que riscavam e bordavam os
bordados que eram levados por vendedores e até por seus donos para serem
vendidos em vários lugares do país. Havia casa que de acordo com a quantidade
de mulheres cada um tinha uma maquina para bordar. Máquinas com pedal e sem
motor, que só surgira anos depois. Vários homens também bordavam na máquina.
Anos depois apareceram maquinas diferentes que facilitam o trabalho dessas
bordadeiras. As chamadas máquinas semi-industriais.
Na segunda feira, que sempre foi o dia da feira de Tobias,
os vendedores e bordadeiras que não tinham locais, a exemplo de uma loja, as
bordadeiras, principalmente as dos povoados, vendiam seus bordados, como até
hoje, no chão da feira. Hoje tem feira todos os dias da semana e na quinta a
feira a feira é tão grande quanto a de segunda.
O apoio da empresa
Senhor do Bonfim, local que os ônibus chegavam, ( não havia rodoviária) era
perto da ponte da divisa da Bahia com Sergipe,na avenida Getulio Vargas e o
fluxo de pessoas que vinham comprar na feira, era principalmente da Bahia. Elas
viam muito cedo para comprar com tranquilidade, muitos chegavam na madrugada do
domingo para voltar na segunda a tarde. Esse fator fez com que as bordadeiras
que moravam nos povoados e por isso chegavam também de madrugada, fossem para
rodoviária ou apoio da Bomfim, esperar pelos compradores que desciam dos ônibus
logo cedo e ali já vendiam seus produtos. Elas viam com as toalhas e semanas de
panos de prato penduradas nos braços e depois algumas já estendia no chão do
prédio do apoio da Bonfim. Elas descobriram que indo pra lá,chegando primeiro, logo
vendiam seus bordados.(deve-se lembrar que essas bordadeiras dos povoado, vinham
também fazer suas feiras na cidade). Esse movimento trouxe muitas senhoras e
senhores de mais posses paro local que começaram a abrir lojas no inicio da
Avenida Getulio Vargas porque era perto do apoio da Bonfim. Por algum tempo funcionou
dessa maneira até que nos anos 80, chegando de São Paulo o Senhor Arnaldo
MARINHO, conhecido como Arnaldo da NICOL por ser o nome de sua loja, comerciante
de cidade grande, viu aqui um campo farto para expandir seu comércio e começou
a trazer confecções fabricadas em São Paulo. Vendo as bordadeiras indo para
perto do apoio da Empresa de Ônibus Senhor do Bonfim, que todos chamavam de
rodoviária, ele que tinha loja na Avenida Luis Alves, local de concentração do
comercio, montou bancas perto do apoio da Bonfim, só que na outra avenida, na
Avenida 7 de Junho, fazendo assim com que muitos comerciantes fizessem o mesmo
e a feira crescesse atingindo seu apogeu e fama como Feira da Coruja por ser de
madrugada e ninguém dormia naquela noite e como todos sabem o animal que não
dorme a noite é a Coruja. Assim ficou famosa A FEIRA DA CORUJA da cidade de
Tobias Barreto-Sergipe, hoje chamada da “Terra dos bordados e das Confecções”.
Bordados que eram nossos e confecções que vinham de São Paulo e algum tempo
depois também do Ceará.
Deixo claro que tanto a
denominação Feira da Coruja e Tobias Barreto Terra dos Bordados e das
Confecções não tem criador, é de domínio popular. Criação do nosso povo e o
nome é porque começou a acontecer vendas na madrugada e o fato de ser do
domingo pra segunda porque como já disse, a feira de alimentos da cidade
acontecia somente na segunda assim aproveitando a feira de alimentos como a
feira de costuras.
Cito alguns nomes de
pessoas que foram grandes contribuidoras para a divulgação dos bordados de
Tobias Barreto em suas várias fases e em suas funções. Vendedores que saiam
para outros Estados, bordadeiras e fabricantes.
Adelia Pinheiro,Deme de Zezé de Geremias, Judite
Rodrigues,Morena Rodrigues,
Zefinha de Joaninha, Filomeno
Neto,Joao de Martinha, Nanzinha Almeida,Valtinho de Martinha
Nice de Ze Nunes, Zelita de Chevolett, Nair de Levina,Carmem
da professora Marocas, Noel de Nadene,Luizinha de João de boa, Dirce de Zeca de
Lé,Diná de Major,Bebé de Lesbona, Mida, Nêm irmã de França,Maria de Lurdes
Ferreira, Stelinha, Joselice de Zé Gordo e muitas outras.
Por: Isabel Cristina Rodrigues Andrade
Jornalista, escritora e historiadora Tobiense.
Artigo para a revista CUMBUCa
a pedido de seu
proprietário,o jornalista Amaral Cavalcante em 2019.
O poeta e Jornalista Amaral Cavalcanti também era tambem
dono do Jornal Folha da Praia. Faleceu de covid 19.Uma perda irreparável para
Sergipe, para a cultura sergipana e para todos
privavam de sua amizade.