SÃO PAULO – Após uma semana de encontros com
lideranças políticas em Brasília, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) concedeu entrevista coletiva a jornalistas nesta sexta-feira (8). Apesar
de liderar nas pesquisas a um ano das eleições presidenciais, o petista não
confirmou candidatura ao Palácio do Planalto e concentrou sua fala em críticas
ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
“Não estou candidato, porque só vou decidir
minha candidatura para o começo do ano que vem. Estou em uma fase de conversar
com partidos, movimentos sociais, vou conversar com empresários e com a
sociedade. Consertar esse país não é tarefa de um partido, é tarefa de muita
gente”, afirmou Lula, que em três semanas completa 76 anos, mas repete estar
com energia de alguém com 30.
“Esse país haverá de ter juízo suficiente,
para que, no dia das eleições, eleja alguém que respeita, que goste e que
exercite a democracia em seus atos cotidianos. Seja quem quer que seja, alguém
que tenha no mínimo sentimento. Alguém que tenha o sentido de humanista, que
tenha o mínimo de solidariedade. Alguém que pense um pouco com o coração e
pense nesse país e pare de falar bobagem”, disse.
Munido de uma “cola” com dados específicos da
evolução dos preços de diversos produtos consumidos por boa parte da população,
Lula manifestou preocupação com o comportamento da inflação. Segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA) teve alta de 1,16% em setembro – maior para o mês desde
1994 –, acumulando alta de 10,25% em 12 meses.
O petista destacou as altas
dos preços de alimentos como a mandioca (+45,27%), o açúcar refinado (+43,90%),
o frango (+28,78%) e o tomate (+24,32%). E também dos combustíveis, que usou
para criticar a política de preços adotada pela Petrobras.
“A gasolina já subiu 39%. O
óleo diesel já subiu 33%. Sem nenhuma necessidade. O Brasil é autossuficiente
em petróleo. O Brasil tem refinarias altamente qualificadas para refinar o óleo
diesel e a gasolina que precisamos. Começamos a privatizar nossas refinarias e
estamos comprando gasolina refinada dos Estados Unidos quando o Brasil era
exportador, antes do pré-sal. O que está acontecendo é que a Petrobras tem uma
direção que é mais importante que o presidente da República. Se ele não tem
coragem de governar, coragem de dizer ao almirante que está lá que não vai
aumentar [os preços], é problema dele. Significa que o Brasil está
precisando de um novo presidente para poder fazer justiça com o preço do
combustível”, disse.
“Não vejo sentido você querer
agradar um acionista minoritário americano e não querer agradar o consumidor
majoritário brasileiro. São pessoas que trabalham de táxi, são pessoas que
trabalham com Uber, que vão trabalhar, pessoas que têm um caminhãozinho para
trabalhar. Ele deveria estar preocupado com o preço para essa gente, e não com
o acionista de Nova York. Isso só demonstra que o Bolsonaro é um garganta, é um
cara que fala sem ter noção do que está falando”, complementou.