Os peixes comercializados e
consumidos pela população podem ser afetados por parasitas que estão presentes
na água, mas em sua maioria, não causam nenhum tipo de doença ou dano à saúde
humana. Esta é a conclusão de uma pesquisa que vem sendo desenvolvida ao longo
dos últimos 10 anos pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde e Ambiente (PSA) da
Universidade Tiradentes (Unit Sergipe) e pelo Instituto de Tecnologia e
Pesquisa (ITP). Ela estuda a presença e a atuação desses parasitas nos locais
onde esses peixes vivem ou são criados, podendo indicar alguma mudança anormal
no ambiente.
O estudo envolve as espécies
consideradas de importância comercial, incluindo as da região do Rio São
Francisco, como xira, piaba, tambaqui e tucunaré; e as pescadas no mar, entre o
litoral do Rio Grande do Norte e o norte da Bahia, como vermelhas, ciobas,
ariacós, cavalas, bonitos e atuns.
O professor Rubens Riscala
Madi, do PSA/Unit, esclarece que esses parasitas são organismos que dependem
metabolicamente de outros animais conhecidos como hospedeiros. Para ele, é
comum achar que a infecção parasitária sempre traz prejuízo ou provoca doença
em seu hospedeiro, mas não é o que acontece. “Em ambiente natural, a relação
hospedeiro – parasita tende à neutralidade, isto é, os efeitos do parasitismo
são, em vários casos, imperceptíveis em termos de saúde do peixe. As infecções
parasitárias ocorrem de forma natural, por isso não há necessidade de
combatê-las”, diz ele, pontuando que, na piscicultura, onde os peixes de uma
mesma espécie ficam aglomerados em um ambiente artificial, pode haver uma
disseminação de parasitas, o que exige alternativas de tratamento e profilaxia
a serem adotadas no manejo.
O pesquisador cita que as
doenças parasitárias provocadas pelo consumo de carne de pescado ainda são
praticamente desconhecidas no Brasil. “Em relação à saúde humana, infelizmente
os profissionais de saúde no Brasil ainda não associam alguns sintomas
relatados pelos pacientes com o consumo de peixe, e por isso quase não temos
informações de casos de acometimento humano provocado por parasitas de peixes.
A depender do parasita, o indivíduo pode desenvolver quadros alérgicos de ampla
variação ou distúrbios gastrointestinais, mas a maioria dos parasitas dos
peixes não causam nenhum tipo de doença no homem”, esclarece Madi, informando
que os estudos nesta vertente estão mais avançados em países como Japão, Espanha,
Chile e Estados Unidos.
Etapas da pesquisa
A pesquisa é desenvolvida sob
três vertentes principais. A primeira é sobre a biodiversidade das espécies,
levantando a fauna parasitária dos peixes para a caracterização das infecções e
descrevendo as espécies novas de parasitas. Já a segunda apura qual o potencial
zoonótico de cada espécie de peixe, isto é, quais delas abrigam parasitas que
eventualmente podem causar algum tipo de sintoma no homem. E a terceira estuda
a saúde ambiental das regiões onde esses pescados são encontrados, já que
interferências externas, como poluição, mudança de temperaturas e outras
interferências, podem contribuir para o aumento ou diminuição dos hospedeiros
que abrigam os parasitas.
“Esses hospedeiros, muitas
vezes organismos pequenos e sensíveis, variam sua população dependendo das
alterações que ocorrem no ambiente e consequentemente, refletem nos índices
parasitários que encontramos nos peixes. Os hospedeiros se relacionam em
cadeias de interações, que envolve geralmente a predação e por isso o aumento
da população de um determinado hospedeiro x, traz um aumento dos parasitas no
hospedeiro y (predador do hospedeiro x)”, explica o pesquisador, afirmando
ainda que os peixes com uma grande variedade de parasitas indicam que determinado
ambiente é saudável.
A pesquisa do PSA/Unit busca
agora mostrar que a incidência dos parasitas de peixes podem ser indicadores de
alteração ambiental, a partir de variáveis como temperatura, pH, salinidade,
teores de oxigênio, amônia e fósforo, entre outros. “Para isso, fazemos o
levantamento da fauna parasitária de algumas espécies de peixes e associamos as
variações que a fauna parasitária apresenta com variáveis abióticas medidas nos
locais de coleta”, resumiu Madi.
O trabalho de pesquisa da Unit
com o ITP tem parcerias com equipes da Embrapa Tabuleiros Costeiros, vinculada
à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e das universidades
Estadual de Maringá (UEM/PR) e Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e de três
universidades do Chile e da Argentina, com financiamento da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Apoio à
Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (Fapitec/SE).